sábado, 2 de julho de 2011

DOM FARES MAAKAROUN - Em defesa do celibato opcional

Da última vez que o entrevistei, o senhor disse que estava a preparar-se para ordenar homens casados, no Brasil, pois essa é a tradição das igrejas orientais, e esperava que os irmãos católicos romanos aceitassem os orientais como eles são.
Como está a questão da ordenação de homens casados?Dom Fares - Esse é um ponto importante. A Igreja Romana deveria aceitar as igrejas irmãs, filhas ou o que seja, com todos os direitos que estas possuem, segundo o Direito Canônico. Mesmo num país católico romano, se nele existe uma Igreja Católica oriental, que esta possa ordenar homens casados para fazer parte de seu clero, como é sua tradição. O Direito Canônico foi aprovado para toda a Igreja Católica Apostólica, ocidental e oriental. Uma Igreja Católica oriental deve ter o direito de viver sua vida de maneira plena, em qualquer parte do mundo. Esta é uma riqueza. A gente não pode exigir de uma Igreja mudar de mentalidade, de costumes, deve aceitar com respeito os outros. Estou à espera, mesmo no Brasil ver um dia - não sou precipitado - isso realizar-se. Eu até entendo que a igreja local nunca ouviu falar desse assunto e estranhe. Mas espero um dia ouvir: a sua Igreja é oriental? Então, as portas estão abertas para exercerem os seus direitos plenos, inclusive o de ordenar homens casados.

Então o senhor ainda não ordenou homens casados para o seu clero, aqui no Brasil?
Dom Fares - Não, até hoje não ordenei.

Mas precisa ter consentimento?
Dom Fares - Como sou membro da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), também gosto de respeitar a maneira de fazer da Igreja Católica local. Tenho de respeitar isso. Mas estou à espera de que um dia a igreja local possa me dizer: você é livre para fazer isso. Com muito respeito, vamos continuar a amar e apoiar este bispo nosso.

E a Igreja Melquita tem seminaristas no Brasil?Dom Fares - Sim, temos. Mas não são seminaristas casados. Estão a preparar-se para se tornar padres celibatários.

O celibato é obrigatório, então?
Dom Fares - Obrigatório, mas foi uma opção. Hoje em dia eu não posso quebrar essa relação com a Igreja local. Tenho que respeitá-la. Mas, um dia, estou certo, a Igreja local também vai reconhecer de uma maneira mais profunda a riqueza da Igreja Oriental em ter homens casados ordenados. Vai começar esse período. Essa falta grande de padres, se o celibato não for uma obrigação, vai permitir ordenar mais padres. Temos leigos maravilhosos, inseridos na vida da Igreja, a fazer grandes obras. Eu até me sinto envergonhado como bispo ao ver a maneira profunda como se dedicam à religião. E digo: eu tenho de melhorar a minha vida espiritual - eu, bispo. Entre esses leigos já inseridos, nós podemos chamar algum - aquele médico, aquele professor - para se preparar para se tornar um dia um padre. E a mulher dele e os filhos devem dar um testemunho, diante de todo mundo, como uma família dedicada a ajudá-lo a dirigir a igreja como padre. Nós precisamos disso. E vamos fazê-lo aos poucos, não podemos forçar as coisas.

Há uma compreensão cada vez maior de que o restabelecimento da comunhão entre Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa ajudaria muito na solução de vários problemas dentro da Igreja Romana. A própria questão do celibato obrigatório, do casamento religioso e da própria organização eclesial tem encontrado uma boa resolução dentro da visão oriental.
Dom Fares - Esse é um ponto muito importante.
Em primeiro lugar, ao permitir aos homens casados se tornarem padres isso não vai diminuir o número dos padres celibatários. No Oriente, temos monges, missionários, padres seculares não-casados, os próprios bispos também não se casam, ao lado do clero casado que trabalham nas paróquias.Nem por isso diminui o número dos que se consagram ao celibato. Ao ver que tem a opção de escolha, quem opta pelo celibato o faz alegremente. Na verdade, vai aumentar o número de celibatários.
Por isso a Igreja local vai descobrir em pouco tempo a riqueza que é ter homens casados ordenados e vai permitir essa opção. Nas outras igrejas cristãs o clero é casado, só os ortodoxos ainda têm os monges e os bispos celibatários.
Se estamos interessados na comunhão com os ortodoxos, por que não preparar desde já homens casados, no interior da Igreja Católica Roma para assumir o sacerdócio? É essa abertura que se espera da Igreja Romana.
Aceitar ordenar homens casados é diferente da aceitação do casamento de padres já ordenados como celibatários. Esse é um problema ainda de difícil solução, mesmo nas igrejas orientais que não aceitam que depois de ordenado um padre possa se casar. O casamento tem de ser feito antes de receber o diaconado.

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